Oportunidades perdidas

Não sou empreendedor. Nunca fui. Nunca tive vontade de ser. Vejo valor nas pessoas que são, mas não consigo ver diversão alguma em chamar para si somente os problemas “chatos” e deixar a diversão para os outros. E sim, minha idéia é que se não consigo me divertir com algo, não vale a pena trabalhar com isso.

Em minha visão, empreendedor é o cara que resolve os problemas, sejam eles quais forem. É o cara que chama para si a responsabilidade, “mete as caras”, “dá seus pulos” e encontra uma forma de passar por todos os inúmeros problemas e dificuldades inevitáveis e inerentes ao ato de empreender.

Eu prefiro ser focado. Prefiro ter meus desafios controlados, previsíveis. Obviamente,  nem sempre consigo. Mas a idéia é saber onde estou entrando, quais tipos de desafios terei e ter uma idéia, mesmo que superficial ou em alto nível, das opções que existem para conseguir matar os meus dragões.

Admiro as pessoas que tem uma paixão e a audácia de se jogarem no sonho de fazer o que for necessário para atingir um objetivo, mesmo sem saber ao certo o tamanho e a complexidade dos problemas que terão que enfrentar até que consigam atingir seus objetivos. Eu simplesmente não tenho sangue frio e estômago para isso.

As vezes fico impressionado com pessoas que tiveram essa audácia e conseguiram vencer correndo atrás de uma idéia que, para a maioria, inicialmente parecia somente loucura, algo que certamente não teria chance alguma de dar certo. O ser humano pode ser muito idiota ou muito genial, tudo depende da quantidade de tempo e dedicação.

Sou fã de idéias simples mas poderosas. Idéias como as quais deram início a grandes negócios criados e prosperados por empresas como Amazon e Valve, por exemplo. Cada uma em sua área de atuação, desafiaram a calmaria e a chatice que imperava quando iniciaram, viram um problema e não tiveram medo de se dedicarem para ir em frente, abraçar a causa, afiar suas lanças e matar seus dragões.

Hoje em dia são líderes em seus mercados e ninguém ousa dizer que fizeram escolhas erradas, mas na época em que iniciaram, certamente eram vistos como idiotas correndo atrás de sonhos fadados ao fracasso. A Amazon, por exemplo, praticamente criou o comércio eletrônico e hoje em dia é merecidamente líder mundial nesse mercado.

Aliás, para mim, nerd anti-social assumido, é até estranho usar o termo “comércio eletrônico”. Todo meu consumo é tratado através de comércio feito via Internet. Comércio eletrônico, para mim é, portanto, simplesmente comércio. É algo natural, não uma loucura impensável como há alguns poucos anos.

A Valve, por sua vez, desafiou a tudo e a todos e criou uma forma justa de distribuir jogos. Relativamente barata, sem muita burocracia, rápida e honesta tanto para quem desenvolve quanto para quem consume jogos eletrônicos. Não somente eu, mas tenho certeza que muita gente nunca sequer se preocupou em realmente comprar (e não piratear) jogos antes do advento do Steam, a plataforma de jogos da Valve.

O preço justo (e não preço baixo, como muitos dizem) praticado pela Valve não levou nenhum fabricante de jogos a falência. Pelo contrário. Criou um mercado consumidor muitíssimo maior do que existiria caso ainda estivéssemos presos ao velho mercado da mídia física e dos jogos vendidos por centenas de  dólares/dilmas. Ao mesmo tempo, deu a chance a centenas de produtores de jogos indie mostrarem seu trabalho.

Atualmente, inclusive, muito tem se comentado sobre o fato dos jogos indie estarem dominando o mercado de jogos, deixando para trás grandes desenvolvedoras de jogos tradicionais, as quais ainda insistem em criar jogos repetitivos, caros e distribuí-los em mídias físicas.

A Amazon começou com livros e atualmente comercializa praticamente tudo que se possa imaginar. Nunca deixou de lado suas raízes, porém. Prova disso foi a criação da família de leitores de livros eletrônicos Kindle. A Valve começou com jogos e, até pouco tempo, ainda se focava somente nesse mercado.

Porém, sabendo que possuem uma plataforma de comercialização e distribuição de conteúdo testada e aprovada por milhões de consumidores em potencial, ultimamente começou a investir também na distribuição de softwares, usando o Steam como plataforma para entrar nesse mercado.

A história nos mostra que, durante a evolução desses mercados e dessas novas formas de criar, distribuir e comercializar produtos, quem resistiu se tornou obsoleto e, invariavelmente, caso não tenha se adaptado, já não existe mais.

Eu, como consumidor, assisto de camarote e bato palmas. Maior facilidade, comodidade, preços mais justos e maior acesso a produtos e informações é algo que certamente me agrada.

O que não me agrada é que mesmo eu, uma pessoa que realmente não tem nenhuma atração por empreendedorismo, tenha percebido que esses mercados principais dominados por essas duas empresas citadas possam se fundir para criar um novo mercado tão promissor e nenhum dito empreendedor tenha percebido isso.

É tão óbvio que me sinto idiota quando escrevo essas linhas. Ninguém percebeu ainda que algo no estilo de uma Steam para e-books seja algo extremamente interessante, potencialmente muito promissor, com potencial de chacoalhar o mercado editorial, comprar briga com vários gigantes e mudar a forma como consumimos literatura ?

E vocês ainda se dizem empreendedores ? Posers.

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s